O desafio gigante para Portugal.
Repleta de riquezas, mais extenso e distante a América portuguesa, que mais tarde se chamará Brasil, era um desafio administrativo para os portugueses. Como eles tentaram resolver o problema?
Com o objetivo de tomar posse, explorar e defender o território que hoje se chama Brasil. Portugal deu início, no século XVI, a montagem da estrutura administrativa da colônia. Para tanto dividiu o território em capitanias hereditárias e mais tarde, aprimorou o sistema criando o Governo Geral
Capitanias hereditárias.
Para empreender uma ocupação em grande escala na Nova Terra, o rei português Dom João III decidiu, em 1534, dividir o território que hoje chamamos de Brasil em 15 faixas de terra: as capitanias hereditárias. O direito de administrá-las, era vitalício e hereditário, conseguido aos donatários, nobres ou burgueses que se comprometiam arcar com os custos internos, repassando grande parte dos rendimentos à coroa portuguesa.
A regulamentação do sistema era feito por meio de dois documentos: a carta de doação e o foral, estabeleceu os direitos e deveres dos donatários e da coroa. O donatário deveria aplicar a justiça e podia doar sesmarias (fazendas) e cobrar impostos relativos a agricultura e a exploração dos rios. A administração portuguesa tributava a exploração do pau-brasil, das especiarias e dos metais preciosos que por ventura encontrasse. No entanto o sistema de Capitanias não apresentou os resultados esperados por causa do isolamento, os ataques dos indígenas e da falta de Investimentos capitanias. Das quinze, somente duas prosperaram foram aí de Pernambuco e a de São Vicente a primeira foi favorecida pelo sucesso na produção açucareira. A segunda desenvolveu a significativa economia de subsistência. As demais o faliram, ou nem sequer foram ocupadas pelos seus donatários.
Governo geral.Com o fracasso econômico das capitanias hereditárias e o aumento das investidas estrangeiras da colônia, principalmente de franceses, Portugal resolveu impor-se mais fortemente para assumir o controle efetivo da administração do território, em 1548, surgiu o Governo Geral consegue retomar para a coroa a capitania da Bahia e fundar a cidade fortaleza de Salvador, em 1549, a primeira capital da América Portuguesa. Cabia ao governador geral coordenar a defesa, a cobrança de impostos e incentivar a economia. Ele era assessorado pela provedor mor (tesoureiro), ouvidor mor (juiz) e pelo capitão mor (a cargo da Defesa).
Embora o Governo Geral tenha sido implantado após as capitanias, ele não vai substitui-las por completo. A ideia era impor uma centralização política na colônia, o que funcionou na esfera militar, mas não se refletiu no dia a dia em razão da falta de infraestrutura de transporte e comunicação. O poder, de fato, era exercida pelas câmaras municipais de cada Vila, pelos chamados "homens bons". Entre os principais governadores gerais estão Tomé de Souza e Mem de Sá, após a morte desse último em 1572 Portugal dividiu o território Colonial nos governos do norte e do Sul depois voltou atrás e reunificou a colônia. Em 1621, porém fez nova divisão foram criados os estados do Brasil, com capital em Salvador e o Estado do Maranhão, com capital em São Luís e o último passaria em 1701 a se chamar Estado do Grão Pará e Maranhão com sede em Belém.
Mapa de 1574 da Baia de todos os Santos e da cidade de Salvador.
Colonização prá quem?
Durante os três séculos que governou o Brasil, Portugal colocou em prática o rentável modelo de política econômica com o objetivo de transferir as riquezas da colônia para a metrópole, na prática um rapto de fortuna.
Primeiramente entenda que o processo de domínio das terras do Novo Mundo (Américas) não foi colonizador, e sim de exploração. Falar em colonização foi apenas na visão eurocêntrica, pois para indígenas e africanos se institui a dominação na precisão integral do termo. Nesse texto será usado o termo "colônia" como uma terminologia didática tradicional. Esclarecimento feito, a economia do Brasil colonial foi sempre voltada em benefício de Portugal, inserida no contexto do mercantilismo português, foi caracterizada pelo denominado pacto colonial ou exclusivo colonial, pelo qual a colônia somente poderia realizar transações comerciais com a metrópole portuguesa, de forma que a vantagem dos portugueses era total, pois compravam barato da colônia e vendiam caro para a mesma com a garantia da exclusividade na exportação das mercadorias. A enorme parte dos lucros das transações comerciais iam para os cofres da Coroa portuguesa que cobrava impostos abusivos sobre as exportações dos produtos coloniais. As principais atividades econômicas no período inicial do domínio português foram a extração do pau-brasil, a produção de açúcar, a pecuária e uma incipiente mineração.

Representação de como funcionava o Exclusivo Colonial de Portugal
O Pau-Brasil.
A primeira riqueza percebida por Portugal foi o pau-brasil, madeira então abundante em nosso litoral e que fazia parte da variedade de espécies da nossa Mata Atlântica. Usada como matéria-prima para fabricação de tinturas na Europa. A extração da madeira era feita pelos indígenas, que trocavam a mercadoria, numa prática conhecida como escambo, por espelhos, colares, machados e outras ferramentas que eram fornecidas pelos comerciantes portugueses. Em alguns pontos da Costa foram instaladas as feitorias para o armazenamento do produto. A atividade era simples e bastante lucrativa, mas trazia um problema: os marcadores lusitanos vinham ao Brasil, carregavam os navios e, em seguida, voltava à Europa, sem se fixar na terra, esse procedimento facilitava a ocorrência de ataques estrangeiros. Ou seja, para garantir a proteção de seus domínios da América Portugal precisava povoa-los urgentemente. Ocorre que havia uma maneira bastante rentável de fazer isso: bastava introduzir uma atividade produtiva na região.
O Açúcar.
Escolhida a estratégia, definiu-se o produto: o açúcar. A matéria-prima, a cana-de-açúcar, adaptava-se bem ao clima e ao solo da colônia. Além disso Portugal já já possuía experiência na produção de cana nos Açores e na Ilha da Madeira. Para completar, o açúcar tinha grande aceitação na Europa o que era uma garantia de mercado consumidor. Entretanto, faltavam aos portugueses capital Inicial e um eficiente infraestrutura de distribuição. Essa questão foi resolvida com uma parceria com os holandeses que já fretavam o açúcar produzido para Portugal nas ilhas do Atlântico e distribuía pela Europa.
O sistema adotado foi o de plantation, cujas características eram: grandes propriedades (latifúndios) monoculturas (dedicadas apenas um produto) - os engenhos. A mão de obra escrava (primeiramente indígena e depois africana). A produção voltada para o mercado externo.
Latifúndios monocultores e escravidão permitiam uma produção vasta e baixos custos, o que levava a altos lucros. O destino era unicamente a exportação uma vez que Portugal não tinha o menor interesse em desenvolver a economia interna brasileira. Os lucros que permaneciam no Brasil eram poucos e ficava nas mãos dos senhores de engenho, os donos dos latifúndios, provocando grande concentração de renda. A produção de açúcar foi a principal atividade econômica do Brasil colonial durante os séculos 16 e 17 sendo ultrapassada no século 18 pela mineração.
A Pecuária
A criação de gado foi a única das principais atividades da econômicas do sistema de produção colonial voltada ao mercado interno. Em meados do século XVI, foi adotada na Bahia e Pernambuco como fornecedora de meio de transporte, alimento e força de tração nos engenhos de açúcar. A fim de não competir com a zona de produção da cana de açúcar o gado foi direcionado para o interior (sertões) do território. As trocas e feiras comerciais organizadas pela atividade pecuária permitiu o surgimento de vilas e povoados no interior no Brasil. Além do Nordeste a atividade desenvolveu vigorosamente na região Sul do país, favorecida pelas pastagens naturais dos Pampas gaúchos.
Os trabalhadores - vaqueiros - eram homens livres e de origem humilde, geralmente de origem indígena ou mestiços, assalariados ou recebiam algumas cabeças de gado. Assim, embora precariamente, tinham condições de empreender um pequeno negócio e contribuíam para o desenvolvimento da atividade pecuária. Com o advento da atividade mineradora nos sertões, a pecuária foi impulsionada devido a necessidade de abastecimento nas regiões das minas.
A Mineração.
Assim que a notícia da descoberta das jazidas de ouro na região de Minas Gerais se espalhou, a partir dos século XVII, ocorreu um grande fluxo de pessoas de diversas regiões e condições sociais em busca de riquezas. A fim de organizar a extração dos metais e pedras preciosas a administração portuguesa tratou assegurar seus lucros publicando o Regimento Aurífero que regulamentava a exploração do ouro.
Estabelecendo a criação de Intendências da minas e a divisão em lavras e faiscações. As lavras eram mais extensas, demandava mais investimentos e grande quantidade de mão de obra escravizada.
Diferente das lavras as faiscações eram menores, porém em maior quantidade.
Aqueles que se dedicavam a atividade mineradora deveriam pagar 20% de imposto à Coroa portuguesa, era o quinto. Devido a grande sonegação do quinto, a administração portuguesa proibindo o uso e comercialização do ouro em pó e cria as Casas de Fundição, obrigando a transformação do ouro em barras, assegurando assim a cobrança do quinto e garantindo a arrecadação do imposto aos cofres da Coroa. Mas, ainda assim, a fraude fiscal manteve-se e para amenizar o prejuízo a Coroa institui um novo imposto sobre a atividade mineradora, desta vez aplicado sobre a quantidade de escravizados utilizados na mineração.
A mineração contribuiu para a expansão das novas fronteiras da América Portuguesa, através da interiorização de núcleos urbanos que surgiam, pois ajudavam no crescimento populacional, além de integrar o comércio interno com as transações de compra de gado da região Sul e escravos do Nordeste. A decadência da mineração ocorreu no século XIX com o esgotamento das jazidas provocando um crescente e rápido esvaziamento das áreas das minas.