Unidos em nome de Alah, em pouco mais de um século, o Islamismo ou Islã surgiu e originou uma das mais ricas culturas da humanidade, marcando profundamente as regiões em que se estabeleceu.
INTRODUÇÃO
Antes de iniciarmos a abordagem sobre o Império Islâmico, cabe fazer algumas considerações oportunas. Em primeiro lugar, sobre a utilização do termo "árabe". Tornou-se senso comum, embora seja equivocado, denominar tudo que se refere ao islamismo como árabe. Decerto, que a expansão islâmica iniciada no século VII e que alcançou 3 continentes está associada aos árabes, mas o islamismo não foi e não é exclusivamente formado pelos habitantes da península Arábica, ou seja, as tribos semitas embriões do Império Islâmico que empreenderam esforços para a propagação do Islã. Devemos lembrar que atualmente o país detentor do maior número de adeptos do Islamismo é a Indonésia, uma nação que não é árabe e não está situada no Oriente Médio. Assim como a população do Oriente Médio não é formada somente de árabes, o Irã é um país islâmico cujo povo não é de origem árabe, e sim de origem persa. O idioma árabe não possuí unanimidade no Oriente Médio, na Turquia a língua oficial é o turco, no Irã é o persa e em Israel o hebraico. Da mesma no Ocidente tem-se acentuado o estereótipo, após o episódio do 11 de setembro, através de perversa campanha associando o terrorismo aos árabes. Observemos como esta região é culturalmente rica e antropologicamente complexa a ponto de não merecer reducionismos estereotipados como justificativas veladas para o Ocidente impor seu domínio. Isto posto vamos tratar dos primórdios da civilização islâmica.
Trecho do Alcorão, o livro sagrado do Islã |
Imagem da peregrinação à Meca. No centro encontra-se a Caaba |
ORIGENS
O desenvolvimento do processo histórico que formou a civilização árabe inicia-se no século VII, na península Arábica, com as tribos de origem semita que compartilhavam algumas características comuns, como por exemplo a linguagem oral. Estas tribos eram distribuídas em dois grupos: urbanas e beduínas. As urbanas chefiadas por xeiques (sheiks), geralmente situadas no litoral, tinham como principal atividade o comércio servindo de entrepostos nas rotas mercantis como destaca-se as cidades de Meca e Iatreb (atual Medina).
As tribos beduínas, localizadas no deserto eram nômades e dedicavam-se a criação de camelos, ao pastoreio e ao cultivo da agricultura (tâmara e do trigo). Invariavelmente os beduínos estavam em movimentação em busca de locais férteis produzir o seu sustento.
Embora compartilhassem de traços culturais comuns frequentemente as tribos estavam envolvidas em conflitos e guerras, situação que prejudicava a atividade mercantil. Mas um homem irá mudar tudo isso, sua mensagem irá ecoar por toda a região e promover uma união improvável das tribos, seu nome: Maomé ou Muhammad, (significa louvável) aventureiro, mercador de caravanas e profeta do Islã.
A religião pré-islâmica era politeísta e animista (cultuavam ídolos e objetos inanimados) o centro religioso mais importante era Meca, local de peregrinação que abrigava o templo da Caaba, em forma de cubo que continha os ídolos e a pedra negra considerada sagrada. Todos os anos milhares de beduínos e mercadores visitavam o santuário de Meca, trazendo muito lucro para os administradores da cidade, a aristocracia dos coraixitas, que detinham o controle político, logo enriquecia com as peregrinações e com a atividade comercial realizada em Meca. Entretanto a atuação de um homem mudará bastante este cenário, seu nome: Maomé.
Imagem acima ilustra como o fiel muçulmano deve realizar o ritual das orações. Rezar todos os dias é um dos pilares do Islamismo.
O PROFETA MAOMÉ
Maomé ou Muhammad nasceu pobre, tornou-se mercador ainda adolescente e aos 25 anos casou-se com uma viúva rica e mais velha. O casamento trouxe-lhe estabilidade financeira permitindo a Maomé realizar inúmeras viagens e ter contato com outros povos e as culturas principalmente a cristã e a judaica. Aos 40 anos passou a ter visões do anjo Gabriel (o mesmo que anunciou a Maria que seria ela a mãe de Jesus) e acreditava ter ouvido sua voz. Os chamados que Maomé recebia o apontavam como o profeta de um único Deus, Alá (Alah). As pregações de Maomé passaram a ser aceitas e trouxe-lhe adeptos da crença no monoteísmo fortalecendo ainda mais suas convicções na catequização da população e a sua missão de profeta para combater e eliminar os ídolos tribais da religião politeísta. Foram nestas bases o princípio que moldará a religião islâmica. Seus ensinamentos do Islã foram compilados no Alcorão (ou Corão) que tornou-se o livro sagrados dos muçulmanos.
Entretanto nem tudo eram flores, a atitude de Maomé em combater os ídolos da Caaba provocou a ira dos ricos comerciantes de Meca que perceberam na pregação da nova religião uma ameaça ao rentável comércio dos peregrinos que visitavam a cidade para reverenciar os deuses no templo da Caaba. Perseguido pelos inimigos, Maomé foge para Yatreb - atual Medina (significa "cidade do profeta") em 622. Este episódio, ficou conhecido como Hégira, correspondendo ao início do calendário islâmico. Em Medina, Muhammad conseguiu milhares de adeptos, transformando-se num poderoso líder político, religioso e militar. A ponto de reunir seus seguidores em um exército para tomar Meca e propagar a nova religião através da guerra religiosa (Jihad). Em 630 Meca é conquistada pelo exército de Maomé, os ídolos da Caaba são destruídos e os opositores mortos. Meca foi declarada cidade sagrada do Islamismo. O feito de unificar as tribos árabes em torno de um poder centralizado e de uma mesma religião em tão pouco tempo foi considerado como um sinal da intervenção de Alá através do seu profeta, Maomé. Daí a importância e reverência dos muçulmanos ao seu profeta ser inabalável e inquestionável, mesmo após a sua morte em 632.
A direita a foto das inscrições feitas a ouro na porta da Caaba, em Meca, a cidade sagrada do Islamismo.
A Esquerda um mapa antigo mostrando a Caaba como o centro do mundo islâmico
A EXPANSÃO DO IMPÉRIO
Quando Maomé faleceu em 632 d.C, não indicou sucessor, mas as tribos já estavam unificadas politicamente e sob uma mesma religião, o Islã, estas condições favoreceram as perspectivas de crescimento territorial. A administração passou para as mãos dos califas que concentravam o poder político, religioso e militar. Além das condições político/religiosa pode-se afirmar que as causas da expansão foram:
* A necessidade de terras férteis;* O espírito empreendedor dos grandes comerciantes que tinham interesses em expandir o comércio
* A explosão demográfica
* A crença na morte lutando pelo islamismo como uma possibilidade de salvação contribuiu para que os exércitos se engajassem na conquista militar contra povos vizinhos.
Através das guerras o império Islâmico ganhou territórios e fortaleceu seu poder, os califas inicialmente conquistaram os povos do Oriente Médio (Síria, Palestina, Pérsia e Egito). Embora dominados os povos não eram obrigados a conversão ao Islã e podiam manter sua própria religião, desde que pagassem impostos por não serem muçulmanos o que de certa forma forçava indiretamente a conversão dos conquistados ao islamismo.
O período da Dinastia dos Omíadas (661 a 750 d.C.) foi especialmente importante no que diz respeito ao crescimento da área do império, pois avançou para a conquista do norte da Índia (atual Paquistão e Afeganistão) e no norte da África. O ápice do processo expansionista ocorreu quando os árabes cruzaram o Estreito de Gibraltar e conquistaram a Península Ibérica (Espanha e Portugal) onde permaneceram por quase 800 anos. O avanço sobre o continente europeu foi contido em 732 d.C., na batalha de Poitiers, vencida pelos francos, atribuindo a estes a façanha de ter evitado a propagação do Islã na Europa.
A máxima extensão do império foi obtida durante o período da Dinastia Abássida (750 a 1258) tendo como capital Bagdá e centro das rotas de comércio entre o Ocidente e o Oriente. Contudo o esplendor foi passageiro tanto que na fase final da dinastia intensificaram-se os conflitos políticos e religiosos destroçando o império em vários califados independentes, quebrando assim a unidade política e a provocando a degradação da coesão religiosa a partir do surgimento de duas correntes opostas: os xiitas e os sunitas - que ainda na atualidade possuem e mantêm fortes divergências religiosas dentro do Islamismo.
Desta forma, com o poder político enfraquecido os abássidas foram derrotados sucessivamente pelos mongóis, pelos turcos-otomanos e pelos espanhóis que reconquistaram o último reduto islâmico na Europa expulsando-os definitivamente.
Imagem retratando a expansão do Islamismo que abrangia três continentes.
O LEGADO DA CULTURA ISLÂMICA.
A cultura islâmica, cuja primogenitura foi dos árabes, deixou marca indelével por onde passou e nas diversas áreas do conhecimento.
* Arquitetura: Criaram os arabescos, baseava-se nas tradições árabes, persas e dos turcos.
* Ciências: Astronomia (traduziram a obra de Ptolomeu). Na matemática foram os criadores dos números arábicos, da álgebra e desenvolveram a geometria. Na química produziram o álcool e outros compostos.
*Literatura; influenciado pela tradição persa em lendas e contos escreveram "As mil e uma noites" entre outros.