A presença da Igreja na formação dos limites da cidade de Salvador
Além das
características de defesa, portuárias e de produção agrícola, a cidade
define-se também pela presença marcante da Igreja Católica, inicialmente, com a
Companhia de Jesus e seus missionários que aqui se estabeleceram para fins de
catequese. A eles se deve a primeira ermida construída - a de Nossa Senhora da
Conceição - na área da praia, a instituição do primeiro bispado do Brasil, em
1551, com a sua Sé.
Jesuítas e Franciscanos estruturaram-se dentro dos limites reservados à
cidade, após a primeira expansão, enquanto os Beneditinos e os Carmelitas,
ainda fora das portas da cidade, posicionaram-se de forma estratégica onde se
previa o crescimento da cidade, demarcando o seu território e, ao mesmo tempo,
reforçando os vetores de expansão no sentido norte / sul (UFBA, FAUFBA-CEAB,
1998, p.58-59). É
perceptível o poder de definição da Igreja Católica cuja influência recaia na
estrutura das cidades colonizadas, nesta época.
Se
os espaços livres no entorno de edificações religiosas cumpriam a função de
atendimento a ritos religiosos, para muito além desta necessidade, traziam
também o objetivo de permitir o enquadramento e a valorização do conjunto,
demonstrando a força e o prestígio da entidade e dos seus dirigentes. A
construção da Sé (demolida em 1913), que substitui a igreja de palha inicial
(localizada nas imediações da atual Igreja da Ajuda), surge ainda em finais do
século XVI, entre as duas grandes praças do primeiro núcleo, em posição
privilegiada e área fronteiriça à escarpa, de frente para a baia. É a Igreja do
Salvador – a Sé Episcopal. Situada em pequeno terreno livre e sem vegetação que
contorna toda a igreja, “[...] está em redondo cercada de terreiro [...],
faltam torres de sinos [...] alta e sóbria que por sua vez articula-se por rua
larga com uso de comércio”. No lugar da anterior capela de palha constrói-se a
Igreja de N. S. d’Ajuda, “com capela em abóbada”, conservando “aquele” seu
espaço fronteiriço (Soares, apud
UFBA, 1998, p.53).
Expansão de Salvador em 1553.
Percebe-se claramente a interferência dos jesuítas no
traçado do “terreiro”. Espaço monumental e geometri-camente bem definido, ganha
o nome de Terreiro de Jesus por abrigar o colégio e a igreja da ordem. Espaço nascido para o
exercício do sagrado e da formação cultural, começa a ser edificado a partir da
segunda metade do século XVI e constitui o segundo largo da cidade e local da
primeira escola oficial brasileira. Seu entorno contém também edificações
residenciais e, na seqüência, a ordem dos franciscanos demarca o espaço com o
seu cruzeiro, símbolo da ordem (Cruzeiro de São Francisco). Nesses elementos
que formam um conjunto religioso.
Expansão de Salvador em 1580. A expansão da cidade para o Norte e Sul.
A cidade extrapola os muros e em 30 anos após a criação do núcleo urbano
primordial edificado por mestre Luis Dias já estava expandindo para o norte em
direção a porta do Carmo localizada nas imediações do largo do Pelourinho e
subindo para o Convento do Carmo. Conforme relato sobre a cidade do Salvador em
1584 diz
que a cidade foi "murada e torreada no tempo do governador Tomé de Souza e
depois os muros vieram ao chão, por serem de taipa, e não se repararem nunca....
por ser a cidade ir estendendo muito por fora dos muros, e agora não há memória
onde eles estiveram”. Ao Sul a
cidade cresce ultrapassando os limites da garganta entre da porta de São Bento
e a Barroquinha. O mosteiro de São Bento já é uma referência dos caminhos que a
cidade começa a tomar. O caminho do Conselho o que hoje corresponde a Avenida
Sete de Setembro, liga a Vila Velha a antiga povoação do Pereira e passava por
varias aldeias de índios. Na Praia que hoje corresponde ao bairro do Comércio
na cidade baixa, era a área de preferência comercial ligado ao ramo de
importação e exportação e também era zona de construção naval, com vários
estaleiros e presença de trabalhadores do setor naval.
A planta urbana é de 1630. Observe a limitação
do núcleo primitivo da cidade ainda demarcado pelas muralhas.
Em 1600, já havia uma praça central, na área
administrativa circundada pelos edifícios do governo, da prisão, da alfândega e
onde se localizava o pelourinho (uma coluna de pedra com grandes argolas de
bronze, na qual eram açoitados escravos). As igrejas completavam o cenário. O
material usado na construção dos prédios, como pedras de liós e azulejos, era
importado de Portugal por imposição da Coroa. Até as casas seguiam o modelo
português: estreitas, tinham frente rente à calçada, janelas com treliças, típicas
da arquitetura lusitana, e jardins nos fundos.
Os grupos étnicos
Três grupos
étnicos fizeram parte do povoamento inicial de Salvador: o índio, o branco e o negro. Os habitantes primitivos do Recôncavo
Baiano eram índios tupinambás e tupiniquins, tribos pertencentes ao grupo tupi.
As relações cordiais entre colonos e índios deterioraram a partir de 1530 –
quando as lavouras de cana-de-açúcar se expandiram e os portugueses tentaram,
sem sucesso, escravizar os índios – em conflitos violentos, que resultaram no
extermínio dos nativos. Atualmente na área do município de Salvador não possuí
nenhum núcleo de população indígena. A
seguir está o relato de Gabriel Soares de Sousa, senhor de engenho e cronista
na Bahia do século XVI, descreve suas impressões sobre o modo de vida dos
Tupinambás, uma das tribos que habitavam a região do Recôncavo Baiano:
“Têm os Tupinambás grande conhecimento da terra por onde andam, pondo o rosto no sol, por onde se governam; com o que atinam grandes caminhos pelo deserto, por onde nunca andaram (...). Costuma este gentio, quando anda pelo mato sem saber novas do lugar povoado, deitar-se no chão, e cheirar o ar, para ver se lhe cheira a fogo, o qual conhecem pelo faro a mais de meia légua,(...) e por os Tupinambás terem este conhecimento da terra e do fogo, se faz muita conta deles, quando se oferece irem os Portugueses à guerra a qualquer parte, onde os Tupinambás vão sempre diante, correndo a terra por serem de recado, e mostrando a mais gente o caminho por onde hão de caminhar, e o lugar onde se hão de aposentar cada noite (...)"..
“Têm os Tupinambás grande conhecimento da terra por onde andam, pondo o rosto no sol, por onde se governam; com o que atinam grandes caminhos pelo deserto, por onde nunca andaram (...). Costuma este gentio, quando anda pelo mato sem saber novas do lugar povoado, deitar-se no chão, e cheirar o ar, para ver se lhe cheira a fogo, o qual conhecem pelo faro a mais de meia légua,(...) e por os Tupinambás terem este conhecimento da terra e do fogo, se faz muita conta deles, quando se oferece irem os Portugueses à guerra a qualquer parte, onde os Tupinambás vão sempre diante, correndo a terra por serem de recado, e mostrando a mais gente o caminho por onde hão de caminhar, e o lugar onde se hão de aposentar cada noite (...)"..
Salvador
sitiada – A ocupação Holandesa
Em primeiro lugar é
necessário esclarecer que o termo holandês não existia em 1624. O país Holanda
não existia. Antes a área
que atualmente corresponde a Holanda, era conhecida como os Países-Baixos,
ocupada por cidades-estados, cidades comerciais que são auto-suficientes na sua
estrutura, entre elas: Amsterdã, Roterdã, Leiden. Podemos afirmar que a Holanda
de hoje foi formada a partir das chamadas empresas de sociedade anônimas, ai
sim, encontramos alguma relação com as invasões no Brasil e mais precisamente
na Bahia.
As principais companhias da época eram
a Companhia das Índias Ocidentais e a Companhia das Índias Orientais. Em
verdade não é o Estado holandês que vai invadir a Bahia e sim uma empresa
privada a Companhia das Índias Ocidentais, que tinha entre seus funcionários um
príncipe de nome Maurício de Nassau. Por que a Bahia é escolhida para ser o
ponto de tomada de uma empresa de capitais ou sociedade anônima que se instala
na Holanda?
Por uma razão muito simples, o açúcar era o grande negócio e o ponto estratégico da rota da Índia era outro grande negócio e ambos aportavam na cidade do Salvador. A Companhia das Índias Ocidentais transfere-se do interesse puramente mercantil para o interesse também militar. Isto é, tomar a cidade que significava a continuação do esquema de comercio privado, do esquema particular das negociações, da carreira da Índia e da produção interna de açúcar. A Companhia das Índias Ocidentais passa a ser uma empresa militar para a conquista da Bahia. A grande motivação desta invasão foi como decorrência da união das coroas de Portugal e Espanha (a Espanha proibiu o Brasil de ter relações comerciais com a Holanda),então em decidem 1623 assaltar a Bahia.
Em maio de 1624 chegava a Salvador a esquadra comandada por Jacob Willekens, tendo sob suas ordens 26 navios e 500 bocas de fogo; os invasores ocuparam facilmente a cidade, nela permanecendo por um ano, até serem rechaçados pela armada luso-espanhola, comandada por D. Fradique de Toledo Osório.
Inconformados com a perda da metrópole, a ela retornaram os holandeses em 1638, quando já fortemente estabelecidos em Pernambuco, tomado em 1630. Dessa feita, o ataque foi comandado por Maurício de Nassau, que, havendo iniciado o assédio em 16 de abril, retirou-se, batido, em 29 de maio. Comandou a defesa o conde de Bagnuolo. Vê-se que a presença holandesa na Bahia foi mais curta e este mito de que os holandeses construíram dique e fortificação não passa de invencionice popular. O tempo em que aqui estiveram estava tomado por preocupação na defesa de sua posição frente a reação dos habitantes de Salvador, não havia espaço para realizar construções.
Por uma razão muito simples, o açúcar era o grande negócio e o ponto estratégico da rota da Índia era outro grande negócio e ambos aportavam na cidade do Salvador. A Companhia das Índias Ocidentais transfere-se do interesse puramente mercantil para o interesse também militar. Isto é, tomar a cidade que significava a continuação do esquema de comercio privado, do esquema particular das negociações, da carreira da Índia e da produção interna de açúcar. A Companhia das Índias Ocidentais passa a ser uma empresa militar para a conquista da Bahia. A grande motivação desta invasão foi como decorrência da união das coroas de Portugal e Espanha (a Espanha proibiu o Brasil de ter relações comerciais com a Holanda),então em decidem 1623 assaltar a Bahia.
Em maio de 1624 chegava a Salvador a esquadra comandada por Jacob Willekens, tendo sob suas ordens 26 navios e 500 bocas de fogo; os invasores ocuparam facilmente a cidade, nela permanecendo por um ano, até serem rechaçados pela armada luso-espanhola, comandada por D. Fradique de Toledo Osório.
Inconformados com a perda da metrópole, a ela retornaram os holandeses em 1638, quando já fortemente estabelecidos em Pernambuco, tomado em 1630. Dessa feita, o ataque foi comandado por Maurício de Nassau, que, havendo iniciado o assédio em 16 de abril, retirou-se, batido, em 29 de maio. Comandou a defesa o conde de Bagnuolo. Vê-se que a presença holandesa na Bahia foi mais curta e este mito de que os holandeses construíram dique e fortificação não passa de invencionice popular. O tempo em que aqui estiveram estava tomado por preocupação na defesa de sua posição frente a reação dos habitantes de Salvador, não havia espaço para realizar construções.
Fonte: (Transcrição adaptada da
palestra de Cid Teixeira efetuada no Crea-Ba)
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